Já me tinham morrido cães antes, por velhice, por acidente… mas nada como no caso do Farrusco… Fez ontem um ano que tive de por a minha alma gémea a dormir…
Depois de 2 meses de luta intensa contra uma doença intestinal, a percepção que não iria melhorar levou a que tomasse uma das decisões mais difíceis da minha vida, e fazer o que era melhor para o meu cão…
Há quase 2 anos escrevi este post sobre 3 dos cães que marcaram a minha vida, quer pessoal quer profissional. Obviamente, raramente fazemos um elogio aos que estão entre nós, e este caso não é excepção.
O Farrusco (Ch Adágio) foi sem sombra de dúvidas um dos cães da minha vida, e o Barbado da Terceira da minha vida!
Parece que foi ontem que o fui buscar ao aeroporto, vindo da Terceira. Ao fim de três intermináveis horas em que ninguém sabia onde o cão andava (os serviços aeroportuários enviaram-no para o terminal de passageiros em vez do terminal de carga, como devia pois viajava sozinho), finalmente recebo-o. Vou para o estacionamento do terminal, abro caixa transportadora, o cachorro – 2 meses mal feitos, meio palmo de cão – sai da caixa, sacode-se, olha para mim com uma expressão confiante “és tu que vais ficar comigo? Está bem!” e começar descontraidamente a passear e a cheirar os pneus dos carros. Eu chamo-o “bebé”, e ele, ainda sem nome e sem me conhecer de parte nenhuma, vem logo aos pulos para ao pé de mim!
Era um cão de carácter forte, dos mais fortes que já vi na raça! Na primeira noite que passou na cidade, ele que era cão de campo, atirou-se ao Husky de um vizinho e foi aos calcanhares do meu vizinho do lado, que detesta cães! No dia seguinte, dia de Natal, foi finalmente para a quinta onde viveu uma boa parte da sua vida. Demorou uma semana a submeter-se a 7 Serras da Estrela adultos que andavam à solta! Mas a partir desse momento, percebeu que não era ele que tinha de tentar mandar, e relaxou! E aprendeu a ser cachorro… para o resto da sua vida!
Quando o Farrusco chegou às minhas mãos, tinha um olhar profundo de cão velho e sábio, de quem já viu muito. Ao longo do seu crescimento, foi gradualmente mudando para uma expressão cada vez mais jovial e brincalhona!
Tornou-se um cão extremamente equilibrado, ao qual nem nunca foi preciso ensinar nada formalmente, ele sabia o que eu queria dele ainda antes de eu o saber, e fazia-o de imediato e com um sorriso na cara.
Era um guardião fantástico e natural, que sabia quando tinha de trabalhar e quando não precisava de o fazer. Chegou efetivamente a impedir que estranhos entrassem na quinta – quando aproveitaram um momento em que estava a trocar os cães à solta para abrir o portão e entrar. Felizmente, tiveram o bom senso de parar quando viram um vulto preto a correr a toda a velocidade para eles. Aí, ele também parou sentado à frente deles, a ladrar (com uma expressão um pouco à Clint Eastwood, “Vá, mexe-te! Faz o meu dia!”). Quando finalmente cheguei ao cão e às pessoas (que nunca tínhamos visto antes), falei com elas e as deixei continuar a entrar, o Farrusco de imediato mudou de um modo de guarda ativo para… tentar saltar-lhes para o colo a pedir festas!
Era o tipo de cão que ele era – trabalhava quando preciso, se eu estivesse presente relaxava para cão de colo que só queria festas!
O Farrusco ganhou o seu lugar na história do Barbado da Terceira por ter sido o primeiro Campeão de Portugal da raça. Mas esse facto para mim é um mero detalhe na sua história de vida.
Deu-me dois dos que considero serem dos melhores Barbados que já criei, e os seus genes perduram nos seus filhos e netos. Isso é um pouco mais que um detalhe…
Mas mais que tudo…
Foi o meu primeiro Barbado da Terceira, após me ter apaixonado pela raça uns anos antes mas não ter antes condições para ter um…
Este presente em alguns dos meus melhores momentos, e em alguns dos piores…
E, sobretudo, foi verdadeiramente a minha alma-gémea… E isso nunca ninguém lhe há-de tirar!
Saudades!...
Sinto muito nunca é fácil :(
ResponderEliminarObrigada Cláudia!
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