O primeiro cão que tive desde cachorro, o Nikko, tinha medo de pessoas. E tinha a sorte (ou o azar, sob o ponto de vista dele) de ter um aspecto muito atractivo, com o seu pelo desgrenhado. Quando eu o passeava, se tivesse a sorte de as pessoas me perguntarem se lhe podiam fazer festas (isto porque a maior parte nem se dava ao trabalho de perguntar, faziam-no logo), dizia que não, que ele não gostava pelo que não o queria forçar a uma situação desagradável para ele. Já a minha mãe, cheia de boas intenções, dizia que sim e, se fosse preciso, pegava no cachorro ao colo para as pessoas lhe poderem mexer melhor. Ora, naturalmente isto só agravava a situação, pois ele ficava sem a hipótese de escolher o que fazer e eventualmente afastar-se.
Se fosse consigo, gostava?
Imagine… Está você calmamente a disfrutar o seu passeio, a apreciar a vista, a ver quem passa, quando de repente vem um perfeito desconhecido ter consigo, agarra-o, dá-lhe um abraço bem apertado como se fosse um amigo de longa data, apalpa-o todo e desaparece em seguida. Confuso? Um pouco mais à frente, aproxima-se outra pessoa, pega-o ao colo, enche-o de beijos enquanto lhe fala como se fosse um bebé e vai-se embora. Mas o que é que se passa? Passado mais um pouco, estas situações repetem-se. Quando é que a sua paciência acaba? No meu caso pessoal, posso dizer que certamente rapidamente me tornaria num perigo para a integridade física das pessoas… ;)
Surreal? Certamente! Não passaria pela cabeça de ninguém comportar-se assim com perfeitos desconhecidos. No entanto, esta é a realidade de inúmeros cães, quando vão passear – serem frequentemente interceptados por pessoas que lhes querem mexer, enquanto se espera que não tenham qualquer tipo de reacção negativa!
Um cão na rua é um bom cão?
Quando vê uma criança na rua, assume imediatamente que é uma criança bem-educada? No entanto, quando vêm um cão na rua, a maioria das pessoas assume que o cão irá tolerar tudo o que lhe aparecer. E efectivamente, a maioria dos cães sabem comportar-se minimamente em público. Mas e quanto aos que não sabem? Ah, mas esses os seus donos deixam em casa! O que é que isso resolve? Um cão que fique permanentemente confinado em casa nunca aprenderá a comportar-se numa sociedade humana. É necessário vir para o exterior, calma e controladamente, para aprender as regras que deve cumprir. E para isso é preciso que o dono esteja disposto a ensiná-lo, com ou sem a ajuda de profissionais consoante a situação, e que as outras pessoas respeitem o espaço do cão e a sua necessidade de aprendizagem.
Peça autorização primeiro
A maior parte das pessoas, e principalmente as crianças, assim que vêm um cão na rua, de imediato se dirige a ele e começa a mexer-lhe. No entanto, habitue-se, e ensine os seus filhos, a pedir primeiro autorização ao dono. É tão simples e tão mais seguro! E é um sinal de respeito pelo dono e pelo cão. E respeite o que o dono lhe diz, quer concorde quer não! Lembro-me que, nas raras ocasiões em que as pessoas me perguntavam se podiam mexer no Nikko, e eu lhes dizia não explicando a razão, a resposta típica era “oh, mas ele é tão lindo, claro que não pode ter medo de pessoas!” O que é que ser bonito tem a ver com ter medo de pessoas? À partida, o dono conhece o seu cão melhor que ninguém e será a pessoa mais avalizada (salvo, em algumas situações, um profissional especializado) a aferir como o animal irá reagir em diferentes situações. Aliás, é precisamente o facto de as pessoas muitas vezes desrespeitarem as indicações do dono que leva a que alguns donos comecem sistematicamente a recusar qualquer contacto entre o seu cão e outras pessoas, criando um círculo vicioso em que o cão poderá inclusive começar a ganhar (ainda mais) medo às pessoas.
Mas também não caia no extremo oposto! É tão frequente ouvir os pais dizer aos seus filhos que se dirigem a um cão desconhecido “Não mexas que o cão morde!” Porquê incutir às crianças o medo aos cães? Se não se quer que a criança mexa no cão, não seria mais razoável explicar-lhe porque é que não deve mexer em cães desconhecidos e ensiná-la a pedir primeiro autorização ao dono?
Observe o cão
Mesmo que o dono o autorize a mexer no seu cão, observe atentamente se o cão quer efectivamente esse contacto. Muitas pessoas acedem a que estranhos façam festas ao seu cão não porque este gosta da situação, ou porque os donos efectivamente não se importem, mas porque socialmente “fica mal” recusar. E forçar um cão tímido ou receoso ao contacto poderá agravar os seus medos e levar potencialmente a situações que ponham em risco a integridade física da pessoa e/ou do animal.
Mas se prestar atenção ao comportamento do cão, normalmente ele irá dar muitos sinais se está confortável com a situação ou não. Um cão que voluntariamente vem ter com a pessoa é um cão que, à partida, estará mais predisposto a estabelecer contacto físico. Mas e os outros? Alguns sinais indicadores de stress (ou sinais calmantes, como são frequentemente designados) são subtis e poderão passar desapercebidos para quem não os conhece – por exemplo, o retraír dos lábios, ou a dilatação das pupilas, que é uma resposta fisiológica de medo e que pode ser preparação para uma reacção de “fuga ou ataque”. Outros sinais não são tão subtis, mas muitas pessoas não os sabem interpretar correctamente. Como o cão que vira a cabeça de lado, evitando encarar a pessoa que se aproxima dele, não o faz porque viu algo mais interessante noutro sítio. Ou o cão que começa a bocejar ou a lamber os lábios ou o nariz, afinal ele não acabou de comer algo saboroso nem um passeio é altura em que esteja com sono. Mas alguns sinais são óbvios – o cão inseguro que se aproxima devagar e agachado, o cão que se afasta da pessoa ou que se refugia atrás ou entre as pernas do seu dono está claramente a demonstrar que a situação não lhe agrada. Isto, claro, sem chegar aos extremos do rosnar ou do snapping (dentada no ar, para desencorajar uma aproximação). Numa situação destas, porquê insistir? E arriscar tornar a situação extremamente complicada para todos os envolvidos?
Como abordar um cão?
Ok, portanto pediu autorização ao dono para fazer festas ao cão, e o animal não parece estar desconfortável com a situação. Apesar disso, talvez não seja uma boa chegar ao pé do cão, dar-lhe um abraço e pespegar-lhe com um beijo no meio do focinho! De uma forma geral, os cães não gostam de abraços, mesmo das pessoas que conhecem bem. Aliás, basta pensar que esse gesto não só não existe entre cães como lhes elimina a hipótese de se afastarem se quiserem. Apesar de cães com um grande laço entre eles gostem por vezes de estar contacto físico estreito um com o outro, o mais parecido com um abraço que eles têm ocorre normalmente durante rituais ou lutas hierárquicas entre cães. Não será assim difícil imaginar que este gesto tem para eles uma conotação diferente da que tem para nós.
Então que fazer? Não aborde o animal de frente, isso é intimidatório para o cão. Evite olhar o cão directamente nos olhos (gosta de ter um estranho a olhá-lo directamente nos olhos?), sobretudo nos primeiros momentos até o cão estar relaxado. Agache-se ao lado do cão, tornando-se assim mais acessível e cumprindo a etiqueta canina – ao contrário das pessoas, os cães cumprimentam-se de lado, não de frente. Deixe ser o cão a decidir vir ter consigo. Isto é muito importante, pois permite que seja o cão a decidir se se sente confortável com a situação. Pode mesmo deixar uma mão descaída, para o cão vir cheirar. Ele poderá aproximar-se e ficar a cheirar, ou aproximar-se, cheirar e afastar-se de imediato… respeite a sua decisão e não vá atrás dele se se afastar.
Onde mexer?
Se o cão der sinais de estar confortável e procurar contacto, a fase seguinte é normalmente as pessoas tentarem fazer-lhe festas. Esta situação também requer frequentemente algum auto-controlo. Evite movimentos bruscos, que poderão assustar o cão. A tendência é tentar fazer festas na cabeça, mas a maioria dos cães não gosta particularmente de carícias aí. Pergunte ao dono se o cão tem algum sitio preferido, e/ou experimente as faces atrás dos lábios, atrás das orelhas, no peito, nos ombros, na base da cauda… É importante que o vá fazendo calmamente, sempre observando o cão, e que pare se o cão começar a exibir sinais de desconforto ou stress.
Em suma…
Para que todos (pessoas e cães) possam disfrutar os dias soalheiros que aí vêm, basta um pouco de respeito mútuo e bom-senso. A maioria dos cães gosta de interagir com outras pessoas, mas ao contrário do que muitas parecem pensar, nem todos os cães se sentem confortáveis nessa situação. Basta um pouco de bom senso por parte dos donos e das restantes pessoas para que os passeios sejam uma experiência agradável para todos envolvidos, e não um martírio para o cão e o dono.
Mas se prestar atenção ao comportamento do cão, normalmente ele irá dar muitos sinais se está confortável com a situação ou não. Um cão que voluntariamente vem ter com a pessoa é um cão que, à partida, estará mais predisposto a estabelecer contacto físico. Mas e os outros? Alguns sinais indicadores de stress (ou sinais calmantes, como são frequentemente designados) são subtis e poderão passar desapercebidos para quem não os conhece – por exemplo, o retraír dos lábios, ou a dilatação das pupilas, que é uma resposta fisiológica de medo e que pode ser preparação para uma reacção de “fuga ou ataque”. Outros sinais não são tão subtis, mas muitas pessoas não os sabem interpretar correctamente. Como o cão que vira a cabeça de lado, evitando encarar a pessoa que se aproxima dele, não o faz porque viu algo mais interessante noutro sítio. Ou o cão que começa a bocejar ou a lamber os lábios ou o nariz, afinal ele não acabou de comer algo saboroso nem um passeio é altura em que esteja com sono. Mas alguns sinais são óbvios – o cão inseguro que se aproxima devagar e agachado, o cão que se afasta da pessoa ou que se refugia atrás ou entre as pernas do seu dono está claramente a demonstrar que a situação não lhe agrada. Isto, claro, sem chegar aos extremos do rosnar ou do snapping (dentada no ar, para desencorajar uma aproximação). Numa situação destas, porquê insistir? E arriscar tornar a situação extremamente complicada para todos os envolvidos?
Como abordar um cão?
Ok, portanto pediu autorização ao dono para fazer festas ao cão, e o animal não parece estar desconfortável com a situação. Apesar disso, talvez não seja uma boa chegar ao pé do cão, dar-lhe um abraço e pespegar-lhe com um beijo no meio do focinho! De uma forma geral, os cães não gostam de abraços, mesmo das pessoas que conhecem bem. Aliás, basta pensar que esse gesto não só não existe entre cães como lhes elimina a hipótese de se afastarem se quiserem. Apesar de cães com um grande laço entre eles gostem por vezes de estar contacto físico estreito um com o outro, o mais parecido com um abraço que eles têm ocorre normalmente durante rituais ou lutas hierárquicas entre cães. Não será assim difícil imaginar que este gesto tem para eles uma conotação diferente da que tem para nós.
Então que fazer? Não aborde o animal de frente, isso é intimidatório para o cão. Evite olhar o cão directamente nos olhos (gosta de ter um estranho a olhá-lo directamente nos olhos?), sobretudo nos primeiros momentos até o cão estar relaxado. Agache-se ao lado do cão, tornando-se assim mais acessível e cumprindo a etiqueta canina – ao contrário das pessoas, os cães cumprimentam-se de lado, não de frente. Deixe ser o cão a decidir vir ter consigo. Isto é muito importante, pois permite que seja o cão a decidir se se sente confortável com a situação. Pode mesmo deixar uma mão descaída, para o cão vir cheirar. Ele poderá aproximar-se e ficar a cheirar, ou aproximar-se, cheirar e afastar-se de imediato… respeite a sua decisão e não vá atrás dele se se afastar.
Onde mexer?
Se o cão der sinais de estar confortável e procurar contacto, a fase seguinte é normalmente as pessoas tentarem fazer-lhe festas. Esta situação também requer frequentemente algum auto-controlo. Evite movimentos bruscos, que poderão assustar o cão. A tendência é tentar fazer festas na cabeça, mas a maioria dos cães não gosta particularmente de carícias aí. Pergunte ao dono se o cão tem algum sitio preferido, e/ou experimente as faces atrás dos lábios, atrás das orelhas, no peito, nos ombros, na base da cauda… É importante que o vá fazendo calmamente, sempre observando o cão, e que pare se o cão começar a exibir sinais de desconforto ou stress.
Em suma…
Para que todos (pessoas e cães) possam disfrutar os dias soalheiros que aí vêm, basta um pouco de respeito mútuo e bom-senso. A maioria dos cães gosta de interagir com outras pessoas, mas ao contrário do que muitas parecem pensar, nem todos os cães se sentem confortáveis nessa situação. Basta um pouco de bom senso por parte dos donos e das restantes pessoas para que os passeios sejam uma experiência agradável para todos envolvidos, e não um martírio para o cão e o dono.
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