terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pegadas no coração

(English version above)

Tal como acontece com as pessoas, alguns cães vêm e vão, e outros deixam uma marca permanente no nosso coração. Ao longo dos vários cães que tenho tido, com que trabalhei ou que vivi, tenho a sorte de ter tido não um, mas 3 a quem posso chamar “o cão da minha vida”, cães com os quais, por diferentes circunstâncias, criei uma relação particularmente especial, e vice-versa. Com alguém uma vez disse… Vai-se tornando mais fácil, não se vai tornando melhor!...


(E para quem acha que um criador apenas gosta dos cães que dão bons resultados em exposições ou na criação… O Top foi um cão recolhido da rua; o Nikko veio de um criador pouco recomendável, sem papéis, tinha um pelo incorrecto, um carácter que deixava muito a desejar e nunca criou; e o Leão nem sequer era meu! Os criadores também são pessoas!)


Top


O Top foi o meu primeiro cão. Como costumava dizer, era um "90% Teckel de Pêlo Curto" - demasiado parecido com um Teckel para ser um rafeiro ou um cruzado, demasiado mau para ser um cão puro! ;)
Encontrado na rua a 27 de Dezembro de 1985, ninguém o reclamou, apesar dos nossos esforços em encontrar os seus donos, pelo que acabou por ficar connosco. Entrou na minha vida numa fase complicada da minha família, e acompanhou-me durante a fase mais importante do meu crescimento. E influenciou de forma decisiva a minha vida pessoal e profissional. Foi graças a ele que adquiri a minha paixão por cães, que escolhi a profissão que escolhi (bem, depois de decidir que não tinha estômago para veterinária), que escolhi a "minha" raça - o Teckel é e será sempre a minha primeira e última raça.
Foi possivelmente um dos cães mais famosos de Oeiras, onde cresci, numa altura em que os cães ainda podiam andar à solta na rua. Aliás, lá eu era conhecida como "a filha da professora Margarida", "a irmã da Paula" ou... "a dona do Top" :)
E apesar de ter morrido há tanto tempo, o vazio que existe no meu coração ainda é grande...

Nikko

 
Se o Top me acompanhou naquela que considero a fase mais importante do meu crescimento, o Nikko acompanhou-me na minha entrada na vida adulta... Foi a minha companhia em 4 casas diferentes, partilhou comigo os melhores e os piores momentos da minha vida, foi com ele que descobri o prazer de treinar cães e as diferenças de motivação causadas por diferentes métodos de treino. Quando queria, sabia ser uma peste, e resmungar quando não lhe apetecia algo (sobretudo depois de ter sido atropelado e partido a anca), mas cedo aprendeu a consolar-me quando estava em baixo - era difícil estar triste muito tempo com as macacadas dele! Até ao fim, foi um eterno cachorro, e nada lhe dava maior prazer do que brincar com bolas, de todos os tamanhos possíveis.
Partiste demasiado cedo Nikko...

Leão


Só conheci o Leão em adulto, ou melhor, a sair da adolescência, com 1.5 anos, quando foi retomado pelo seu criador. Ele veio desconfiado com as pessoas e com medo de homens, e durante cerca de um ano eu era virtualmente a única pessoa com quem ele era capaz de estar relaxado. O que contribuiu para criarmos uma relação muito especial, era o tipo de cão que sabia o que eu queria e sentia, reagindo de forma adequada, sem lhe dizer nada. Ensinou-me muito sobre a relação entre pessoas e cães, e sobre comportamento entre cães. Era o cão que levávamos para as escolas e TV em acções de divulgação, andando à solta no meio de crianças, e o mesmo cão era um guarda incorruptível da quinta. Era o cão capaz de andar juntamente com vários outros cães, machos e fêmeas, adultos e juvenis, sem problemas, capaz de disciplinar os jovens sem precisar de recorrer a agressividade – quem não soubesse o que estava a ver, apenas via cães a brincar, quem soubesse, via ali todos os sinais de disciplina no grau necessário e nada mais do que isso.
Mas acima de tudo, e apesar do dono ser outro, ambos sabíamos que era o “meu” cão…

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