domingo, 7 de novembro de 2010

Kikko




O Kikko (A Special One de Aradik), cachorro Drever de 9 meses, vem passar uma temporada de volta a casa. Ele está com alguns problemas com que a minha mãe neste momento não está a conseguir lidar, por várias razões profissionais e pessoais.
A infância do Kikko foi, no mínimo, diferente da de um cachorro normal, o que em muito terá contribuído para alguns dos seus problemas. Devido a uma osteomielite, que levou a que o rádio e o cúbito de um dos braços se partissem em vários pedaços, passou vários meses com a pata numa tala, enquanto se esperava que crescesse o suficiente para poder ser operado; depois da operação foram ainda algumas semanas com os ferros na pata e depois mais umas semanas novamente com tala. Ou seja, foram vários meses de movimento muito controlado e restrito, com passeios de trela curta a limitá-lo, algo extremamente complicado num cachorro já de sim muito activo e que inevitavelmente acabou por lhe criar um elevado nível de stress. Verdade seja dita, o Kikko tem sido o exemplo vivo de como os cães não se apercebem das suas limitações, e sempre foi um cão extremamente alegre com tudo e com todos. Porém, todas as condicionantes que teve durante o seu crescimento inevitavelmente acabaram por o levar a alguma frustração, e aqueles subtis sinais de stress (como por exemplo os lábios ligeiramente repuxados demais), estavam sempre presentes. E o stress manifestou-se em ainda mais actividade (coisa que já normalmente não falta num bebé Drever!)
Adicionalmente, o Kikko tem também problemas por separação. Não do estilo de destruir a casa (felizmente), mas de ficar a ladrar continuamente quando não há pessoas presentes – e um Drever tem uns valentes pulmões! A isto também não devem ter ajudado as frequentes visitas ao veterinário – como o horário de trabalho da minha mãe e o do ortopedista que o acompanhou eram frequentemente incompatíveis, muitas vezes o cão passava uma boa parte do dia no veterinário – a ladrar continuamente. Isto não o fez ter medo de consultórios; antes pelo contrário, continua a ir para lá alegremente, mas há-de ter contribuído para a ansiedade dele.
E como apenas recentemente tinha conseguido convencer a minha mãe a usar uma transportadora, para ajudar a resolver o problema da falta de higiene do Kikko em casa, sobretudo quando não está ninguém em casa durante algumas horas, o cão ainda está a meio desta aprendizagem.

Portanto, neste momento, há vários problemas a lidar:
- o ladrar excessivo quando está sem pessoas por perto (mesmo que tenha outros cães com ele, com quem normalmente adora brincar);
- o puxar excessivamente na trela, devido à excitação (e um Drever tem uma força inversamente proporcional ao seu tamanho!);
- os “descuidos” algo frequentes em casa (que penso que sejam uma combinação de falta de higiene e de manifestação de stress);
- o não gostar de estar na caixa (apesar de já saber ficar lá sossegado de noite).

E o que estou a fazer?
O Kikko ainda só cá está há 6 dias, mas já começam a haver alguns progressos.
Uma boa parte da sua frustração derivava do movimento restrito a que teve de ser sujeito durante o crescimento. Nesta altura, os tratamentos à sua pata estão terminados, pelo que finalmente pode começar a ter uma vida relativamente normal. Aqui tenho a possibilidade de ter os cães à solta fora de casa algumas horas por dia, pelo que o aumento de exercício livre está a começar a mostrar alguns resultados. Mesmo no ladrar dele já não se nota aquela angústia que tinha; até quando ladra bastante tempo por não ter ninguém ao pé dele, já não são os latidos em rápida sucessão, mas apenas um ladrar “normal e frequente” (hmm… como descrever sem som?) e entrecortado por alguns (curtos) momentos de pausa.
Arranjei um Kong, um brinquedo de borracha oco no meio, que se enche de alguma comida gostosa, que os cães normalmente adoram e que permite que passem bastante tempo (horas mesmo) a entreter-se com ele, a tentar chegar a todo o interior. Como foi um sucesso instantâneo, estou com ele a habituar o cão a ir e ficar por sua vontade na transportadora. Já comecei a fechar-lhe a porta da transportadora, poucos minutos de cada vez, com o objectivo de ir gradualmente aumentando o tempo em que ele fica fechado sem ladrar, de forma a poder sair de casa e deixá-lo sossegado e em segurança, tal como faço com os outros cães.
Também ando a trabalhar as suas “maneiras” na transportadora, a só sair quando lhe digo, de forma a controlar a sua ansiedade - algo que está a aprender tão bem que há pouco quando lhe abri a porta fiquei a pensar porque é que ele não saia, só depois é que me apercebi que estava à espera que eu o autorizasse! ;)
Quanto à ansiedade por separação, ando a ignorar os latidos dele quando saio de casa ou do piso e a ignorá-lo quando chego a casa e ele salta para cima de mim. Apenas lhe dou atenção quando acalma. Como a minha casa tem uma varanda que corre ao longo de metade da casa, com acesso por várias divisões, bem como uma garagem no piso inferior com acesso interno à casa, estou a sair e entrar de casa por diferentes divisões, de forma a que a porta de entrada não seja associada exclusivamente com o eu sair de casa. Também estou a vestir e despir o casaco sem sair necessariamente à rua, de forma a tentar quebrar as associações que o cão tem em relação aos “rituais” que as pessoas têm quando se preparam para sair para a rua. Este será o problema mais complicado de lidar.
Além disso, os momentos de festas e mimos são reservados para quando o cão está calmo e interrompidos quando se começa a excitar demasiado. O objectivo é começar a criar-lhe hábitos de auto-controlo, diminuindo a sua sobre-excitação.
Os próximo passos serão adquirir um halti, que infelizmente não há à venda onde vivo. Este é um dispositivo que se coloca na cabeça e onde se prende a trela. Quando o cão puxa na trela, a cabeça muda de posição e o cão deixa de puxar. Isto será para começar a trabalhar no puxar demasiado na trela. Pretendo também começar a ensinar-lhe as ordens básicas de obediência, de forma a substituir os comportamentos indesejados (como o saltar para cima das pessoas) por outros incompatíveis (como sentar-se); ao mesmo tempo, por serem posições estáticas, poderão ajudar a diminuir o nível de excitação.
Quanto aos problemas de falta de higiene, penso que se irão resolver por si à medida que o Kikko se vai adaptando ao ritmo de casa, ao estar à solta durante bastante tempo e o nível geral de stress vai diminuindo.
Finalmente, outra coisa que ando a tentar fazer é… trabalhar a minha paciência! ;)

Tenho a vantagem de trabalhar principalmente a partir de casa, o que me permite estar mais disponível para os pequenos detalhes que posso ir trabalhando com o Kikko. Além disso, nesta época em que as temperaturas estão mais baixas, quando saio posso levá-lo de carro comigo em vez de o deixar em casa a ladrar (no carro vai bem para a transportadora e fica lá sossegado e sem fazer barulho), pelo menos até confiar nele em casa. Porém, tenho também a desvantagem de ter trabalhos que me requerem demasiadas horas e de ter vários cães, pelo que não posso dar uma atenção tão dedicada como gostaria a vários pormenores. Mas com tempo lá iremos…

O Kikko ainda só cá está há 6 dias. Já se começam a ver algumas melhorias, como a diminuição do nível geral de ansiedade, mas há dias que correm bem e dias que correm pior. E ainda está numa fase de adaptação a um novo ambiente, que ele só conhecia de vir passar um ou outro fim-de-semana de quando em quando. Apenas nos próximos dias/semanas irá começar a sentir-se verdadeiramente em casa e começar a mostrar as suas verdadeiras “cores”. Seja como for, este será um trabalho que irá demorar, mas penso que à medida que o seu nível de confiança (nos outros e em si-próprio) vai aumentado, e com alguma orientação, ele irá acabar por ser um cãozinho bem ajustado.
Se alguém tiver ideias ou sugestões para facilitar este processo, gostaria de as ouvir!

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